Monday, June 19, 2006

Volta, Lanterninha!!!!



"Maldita a hora em que aboliram os Lanterninhas."

Sempre gostei de ir ao cinema. Apesar de não ser nenhuma cinéfila fanática, nem crítica antipática, costumo assistir meus filminhos até com bastante frequência. Por isso, percebi uma coisa chata que vem acontecendo. O comportamento do público mudou. As pessoas estão perdendo a admiração e até mesmo o respeito pela sétima arte. Posso até estar errada ou exagerando, então pense comigo. Antigamente, ir ao cinema era um programa que tinha muito mais glamour. As pessoas se arrumavam, perfumavam e se encontravam especialmente pra isso. Naquelas salas grandes como as do Cine Palladium, as pessoas se acomodavam e, naquelas duas horas mais ou menos, mergulhavam na história que se passava na telona. Era bem comum as pessoas aplaudirem o filme no final, como se o diretor ou os atores pudessem receber pessoalmente as palmas. Ali, no escurinho do cinema, chupando drops de anis e longe de qualquer problema, acontecia no máximo uma conversinha ao pé do ouvido. Claro que havia os chatos, mas não era como hoje.

Naquela época, tínhamos duas figuras clássicas dentro do cinema. Uma era o baleiro, carregando sua bandeja de chocolates e chacoalhando uma caixinha de mentex. A outra era o saudoso lanterninha. Lembra dele? Aquele senhor que indicava o lugar para as pessoas depois que as luzes se apagavam. Aquele mesmo que iluminava os namorados mais afoitos, corrigia os folgados que colocavam o pezão na poltrona da frente e, principalmente, inibia os insuportáveis que ameaçavam atrapalhar o programa dos outros. E não é que dava certo?

Aos poucos, as coisas mudaram. Começou com a popularização do vídeo-cassete. Disseram que o cinema estava indo pra dentro de casa, o que na prática era bobagem, já que o cinema continuava sendo diferente, especial. Lá não tinha telefone tocando, gente passando em frente à TV, cachorrinho fazendo xixi no tapete, nem mamãe chamando pro lanche. O cinema ainda era o Cinema, graças a Deus. Depois é que aconteceu o pior: levaram as casas para dentro do cinema. Explico: a decadência das grandes salas e o surgimento do cinema de shopping criaram um novo tipo de público. O das pessoas que acham que estar em uma sala de cinema é o mesmo que entrar numa loja, num restaurante, ou estar na própria casa. Assim o filme deixou de ser uma opção de lazer e cultura, transformando-se num mero produto de consumo. Ou seja: o cinema virou fast-food.

Hoje, o que acontece é que as pessoas não se importam tanto com aquilo que estão assistindo. Simplesmente acham que, pagando o ingresso, podem entrar e agir como quiserem. E o pior é que agem: inundam as salas de lixo e pipoca, atendem o telefone celular sem nenhuma cerimônia, conversam, riem, fofocam, tiram até o sapato. Sentem-se literalmente em casa, criando um desconforto tão grande que nem parece que elas são minoria. Aliás, uma minoria muito atrevida, diga-se de passagem. São pessoas que realmente não se importam em incomodar as demais e chegam mesmo a se divertir com isso. Quanto mais irritam os outros, mais se tornam provocativas.

Hoje, por exemplo, na última sessão do 'A Profecia' no BH Shopping, havia mulheres cacarejando em alto e bom tom. Certamente eram pessoas sem segredos, pois não faziam a mínima questão de falar baixo, pelo contrário. Havia também aqueles que comentavam cada quadro do filme, gente que não consegue ficar calada por um segundo. Eu pedia silêncio, chiava, reclamava e, quanto mais isso acontecia, pior ficava. Acho que perdi metade do filme nessas distrações. E ainda tem gente que se sente incomodada por eu estar reclamando: "Eu paguei o ingresso e tenho todo o direito de conversar"... Nessas alturas, meu sangue já entra em ebulição.

Tudo isso me faz pensar: por que não trazem o lanterninha de volta? Além de criar novos empregos, tenho certeza de que as pessoas ficariam mais civilizadas. Se não desse resultado, aí sim poderíamos tentar soluções alternativas, como trocar a lanterninha por um fuzil AR15 com mira laser. E com silenciador também, é claro, para não atrapalhar o filme. Outra idéia seria instalar um botão eject nas poltronas de cidadãos indesejáveis. Ou então, quem sabe, transformá-las logo numa cadeira elétrica. Aí sim, o programa ficaria emocionante.

P.S.: Fiz uma comunidade no Orkut pra quem se sente tão indignado quanto eu.

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